Waldson Pinheiro, “Interlíngua, a solução natural”

Introdução

A grande maioria dos brasileiros não tem sentido necessidade de preocupar-se com outra língua que não seja a portuguesa. Muita gente nem com esta se preocupa. A verdade é que, no Brasil, se pode viajar até milhares de quilômetros sem qualquer problema maior de comunicação, o que não sucede com vários países europeus, que, em um curto raio a sua volta, têm até meia dúzia de idiomas diferentes. Nossas próprias fronteiras não representam um grande obstáculo para o entendimento, uma vez que, do outro lado, se fala espanhol, que muitos por aqui acham apenas um português arrevesado. Daí que o brasileiro esteja muito mais para monoglota do que para poliglota.

Mesmo assim, este quadro está mudando. Uma parte da população brasileira, os que viajam ao exterior, os que trabalham com turistas, os que compram utensílios importados, os universitários e profissionais que precisam ler livros e publicações em língua estrangeira, aqueles com acesso a comunicação por satélite produzida fora do país, todos esses já se tornaram mais conscientes da "aldeia global " em que vivemos e da necessidade do estudo de outros idiomas como exigência para a comunicação.

A pergunta a fazer é: que língua estudar?

Para os brasileiros que não fazem parte do núcleo mais antigo formado por portugueses, índios e africanos, a escolha poderia recair no idioma de suas origens, como alemão, italiano, árabe ou japonês, para só citar os grupos mais numerosos. Outra opção seria um aprendizado sério do espanhol, visando a uma integração latino-americana maior. Ou então, a manter-se a tradição predominante entre nós no século passado e no atual, privilegiar o estudo do francês e do inglês.

Bem entendido, o domínio de uma segunda língua exige bastante esforço, pois não basta saber trocar cumprimentos e safar-se nas lojas e restaurantes. A familiaridade com outro idioma deve incluir a capacidade de ler livros, revistas e jornais, assistir a filmes, ir ao teatro, ver televisão, ouvir palestras, falar ao telefone, manter uma conversa sobre assuntos gerais e também comunicar-se por escrito.

A verdade é que não é tão simples dominar uma língua estrangeira. Tanto no Brasil como na maioria dos países, o ensino de línguas estrangeiras nas escolas apresenta resultados decepcionantes.

Este quadro de bilingüismo aqui sugerido já resolveria parcialmente o problema da comunicação dos brasileiros com o exterior. Cabe, porém, perguntar se seria esta a melhor solução. O caso é que o problema da comunicação internacional não deve ser enfocado de um ponto de vista setorial, de um só país, mas precisa de uma solução de alcance planetário.

A existência de milhares de línguas em nosso mundo costuma ser vista como castigo ou maldição. Uma tentativa para explicar a multiplicidade de idiomas na Terra é a conhecida história da Torre de Babel. Mas, se olharmos com objetividade a atual diversidade de línguas, concluiremos por sua inteira normalidade, pois milagre mesmo seria existir uma língua só.

A dispersão dos grupos humanos por todos os continentes e seu posterior isolamento por barreiras geográficas de difícil transposição (oceanos, desertos, florestas, cordilheiras) levaram fatalmente ao surgimento de troncos lingüísticos independentes, que se esgalharam no decorrer de milênios na forma dos idiomas atuais. Um desses troncos, o indo-europeu, ramificou-se nas línguas da Índia, do Irã e da Europa e transplantou-se, com espanhóis, portugueses, franceses, ingleses e holandeses, para as Américas, Austrália e Nova Zelândia, penetrando igualmente na Ásia e na África. Outro, o semita, chegou aos nossos dias representado pelo árabe e hebraico. Outros ainda se difundiram a partir da China, das ilhas dos oceanos Índico e Pacífico, ou dos povos negros da África. Cada uma dessas línguas da Terra tem servido de veículo para uma cultura particular que muito enriquece a extraordinária herança folclórica, moral, religiosa, literária e científica da humanidade. Sua existência é antes uma bênção, e todas que têm atrás de si um grupo de falantes, muitos milhões ou apenas alguns milhares, merecem respeito e preservação.


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