História da IALA

Todo acontecimento histórico tem suas causas e efeitos. Para explicá-lo deve-se primeiro estudar-lhe as causas. A Interlíngua nasceu em 1951 com a publicação do Dicionário Interlíngua—Inglês, cujo redator foi Alexander Gode, e da Gramática preparada pelo mesmo A. Gode e Hugh Blair. Este evento, porém, não teria sido possível sem a existência da IALA (International Auxiliary Language Association — Associação para a Língua Auxiliar Internacional) e sem o suporte moral e financeiro da Srª Alice Vanderbilt Morris.

Enquanto paciente de uma clínica no início da década de 1920, uma senhora america muito rica, Alice Vanderbilt Morris, esposa de Dave Hennen Morris, embaixador dos Estados Unidos em Bruxelas, descobria por acaso a existência do Esperanto e ficava muito entusiasmada com a idéia de uma língua auxiliar para todo o mundo. Foi então que o Dr. Frederick Cotrell do Conselho Internacional de Pesquisa interessou o casal Morris na criação de uma organização permanente que continuasse os estudos sobre línguas internacionais já iniciados por várias comissões. Ambos os Morris acolheram com satisfação a oportunidade apresentada.

O movimento em favor de uma língua auxiliar já tinha recebido um novo ímpeto com os trabalhos do Comitê Internacional da Língua Auxiliar, estabelecido em 1919 em Bruxelas. Esta Comissão reunia pessoas experientes em assuntos internacionais e comunicações, além da grande erudição lingüística para discutir o problema. Como resultado do trabalho desta equipe, as Associações para o Progresso da Ciência americana, inglesa, francesa e italiana juntamente como Conselho Americano de Sociedades Acadêmicas instituíram a IALA.

Em 1924, a IALA foi constituída legalmente nos Estados Unidos como organização sem fins lucrativos, cujo objetivo era “promover estudos, discussões e extensa publicidade de todas as questões relativas ao estabelecimento de uma língua auxiliar, com pesquisas e experimentos aptos a facilitar a consecução destas metas de forma inteligente e com sólidos alicerces”. Adiante, na página 15 do mesmo documento, lê-se que a língua em torno da qual se formasse um consenso deveria ser recomendada “para adoção final pelos governos do mundo”. Indicava-se com isso que tal língua ainda não existia. O parágrafo seguinte define melhor o objetivo: “Estabelecer uma língua sintética para ser ensinada em todos os sistemas de educação de todo o mundo, como meio normal de intercâmbio de idéias e difusão do saber entre pessoas com diferentes línguas maternas”. Planejava-se iniciar as pesquisas tanto na América como na Europa.

Os primeiros anos da IALA foram utilizados na exploração do problema da língua. Elaborou-se uma lista de toda a literatura que continha discussões sobre línguas internacionais e reuniu-se uma biblioteca das obras relacionadas a esta área. Ao mesmo tempo, estabeleceu-se contacto com os vários grupos que defendiam as diversas línguas auxiliares, entre elas, o Esperanto de Zamenhof (1887), o Ido de Couturat (1907), o Occidental de von Wahl (1922), o Novial de Otto Jespersen (1928).

Havia também um estudo comparativo das línguas étnicas mais importantes, como o inglês, francês, italiano, espanhol, alemão e russo, das quais as línguas auxiliares em estudo retiravam seu material. Mas num primeiro estágio, o objetivo era chegar a um compromisso entre as línguas mencionadas.

Diversas reuniões foram patrocinadas entre 1925 e 1930 pela Srª Morris, em Paris, Bez, Genebra e Montreux, onde os representantes ofereciam concessões recíprocas e aceitavam modificações em suas respectivas línguas. Entretanto, todos os esforços de compromisso foram em vão. Esperantistas e idistas, os mais renitentes, mantinham a qualquer custo suas diferenças, e seu caráter esquemático era incompatível com as línguas naturais. Abandonou-se, portanto, a esperança de um compromisso, e cada língua seguiu seu caminho original.

No Segundo Congresso Internacional de Lingüística em Genebra, em 1931, a IALA conseguiu pela primeira vez que lingüistas profissionais e especialistas em filologia e línguas auxiliares se reunissem por um período de duas semanas para troca de idéias. A conferência foi convocada pelo Prof. Otto Jespersen e concedeu sua aprovação ao programa de pesquisas da IALA, e nada menos que 27 eminentes lingüistas não membros da IALA assinavam seus nomes por ocasião do Terceiro Congresso de Lingüistas, em Roma, em 1933.

Em 1935 cirou-se a chamada Comissão para o Acordo, encarregada de discutir os critérios para uma língua auxiliar mundial. A primeira reunião realizou-se em 1936, em Bruxelas, na Embaixada Americana. Participavam desta Comissão um número expressivo de eminentes lingüistas provenientes de 19 universidades. A Comissão continuou suas pesquisas na Europa até o início da guerra em 1939, quando se tornou impossível continuar as reuniões.

Ainda que a IALA não tivesse originalmente pretendido elaborar sua própria língua auxiliar, sua posição começou a mudar após 1934, quando a conveniência em adotar qualquer das línguas até então investigadas se afigurava cada vez mais duvidosa. Tinham importância especial os argumentos quanto à preferência por uma língua esquemática (Esperanto ou Ido) ou uma língua naturalista (Occidental). Para discutir esses temas, realizaram-se reuniões em Genebra (1935) e em Copenhague (1937) onde, para grande surpresa do mundo interlingüístico, o Esperanto foi inteiramente descartado.

Já em 1937 as pesquisas da IALA tinham chegado à conclusão de que, para elaborar uma língua cientificamente e imparcialmente, era necessário extraí-la completamente das línguas naturais. Os pesquisadores tinham entendido que milhares de palavras das línguas européias já eram internacionais, e era cientificamente aproveitável este vocabulário na elaboração da língua auxiliar. As discussões atingiram visível progresso ao aceitarem a justificativa da naturalidade e rejeitarem o esquematismo (ou artificialismo), cuja adoção o público interlingüístico aguardara, por conhecer as preferências da Srª Morris e do Professor Collinson pelo Esperanto.

O início da guerra em 1939 obrigou a equipe multinacional da IALA a dispersar-se. Em conseqüência, já não era mais possível reunir a Comissão para o Acordo.

Todo o acervo foi transferido da Universidade de Liverpool para Nova York. Ali o Prof. Clark Stillman organizou uma nova equipe de lingüistas de várias nacionalidades, que dirigiu até se pôr a serviço do governo em 1943. Foi quando o Dr. Alexander Gode von Aesch assumiu a direção dos trabalhos, culminando com a publicação do Relatório Geral em 1945, que apresentava as bases teóricas das pesquisas da IALA: o conceito do vocabulário internacional, as regras a observar na escolha das palavras; a padronização da escrita segundo protótipos etimológicos, e as características gerais da gramática proposta.

Após a guerra, em 1946, o Prof. André Martinet deixava a Sorbonne em Paris para ser diretor da equipe de pesquisas da IALA em Nova York. A IALA apresentou sua língua em 4 variantes: C, K, M, P caracterizadas por seu grau de proximidade ao esquematismo ou naturalismo. Pela primeira vez dava-se a este idioma o nome de interlíngua.

P Pregaria super le Acropolis.
M Preghiera super le Acropolis.
C Prega sur le Acropolis.
K Prego sur le Acropolis.

P Jo habe nascite, o dea cum le oculos azure,
M Io have nascit, o dea con le oculos azur,
C Yo ha nascet, o deessa con le ocules azur,
K Yo naskaba, o dea kon le okuli azure,

P de parentes barbare, inter le bone et virtuose Cimmerios
M de parentes barbar, inter le bon e virtuos Cimmerios
C de parentes barbar, inter le bon e virtuose Cimerios
K de parenti barbare, inter le bone e virtuose Kimerii

P que habita ad le bordo de un mare sombre
M que habita al borde de un mar sombre
C que habita al borde de un mar sombre
K kel habita sur le bordo de un maro sombre

P ericitate de roccas et semper battite per le tempestas.
M erissat de roccas e sempre battit per le tempestas.
C erissat de rocas e sempre batet per le tempestes.
K erisate de roki e sempre batate per le tempesti.

Todas as quatro variantes correspondem ao seguinte texto em português:

Prece sobre a Acrópole.

Eu nasci, ó deusa dos olhos azuis,
de pais bárbaros, entre os bons e virtuosos Cimérios
que habitam à borda de um mar sombrio,
eriçado de rochedos e sempre batido pelas tempestades.

Estas quatro variantes foram endereçadas a 3.000 eruditos em vários países, utilizadas como base de uma sondagem de opiniões sobre a variante preferida. Juntamente com os diversos argumentos que justificavam cada uma delas.

Os resultados da sondagem mostravam uma rejeição decisiva da variante K, a variante extremamente esquemática, o que constituía uma rejeição adicional das línguas do tipo Esperanto e ido. A preferência foi pelas variáveis P e M, de fundo naturalista.

A Srª Morris faleceu em 1950, e no ano seguinte foi finalmente publicado o Interlingua—English Dictionary e a Interlingua Grammar, contendo o primeiro 27.000 palavras internacionais.

Estava assim concluído o mais minucioso estudo para produzir uma língua auxiliar internacional, a um custo estimado de 3 milhões de francos suíços. Os esforços anteriores para criar uma língua auxiliar parecem comparativamente acanhados e ilusórios.

A Interlíngua é um verdadeiro idioma que transcende os esforços de um só homem, método seguido para criar todas as outras línguas planejadas. É o resultado de trabalhos desenvolvidos durante 25 anos por equipes de lingüistas profissionais que devotaram a este tema grande parte de seu tempo e não apenas seu tempo livre após as jornadas de trabalho. A língua a que se chegou é tal que todas as pessoas que conhecem uma língua românica podem lê-la ou entendê-la à primeira vista, sem necessidade de estudo prévio.

Após atingir assim seu objetivo, a IALA foi dissolvida em 1953.


A UMI — Union Mundial pro Interlingua foi fundada em 1955, com o objetivo de divulgar a Interlíngua pelo mundo.

O batismo de fogo da Interlíngua foram os inúmeros congressos científicos, sobretudo na área médica, tais como: 2º Congresso Mundial de Cardiologia em Washington (1954), cujo programa oficial era em inglês e em Interlíngua. 55% dos cardiologistas do mundo inteiro ali presentes entendiam o texto em inglês, enquanto mais de 80% compreendiam os sumários em Interlíngua.

Outros congressos foram: a 13ª Conferência de Pesquisa Pediátrica em Syracuse (1954), o 6º Congresso da Sociedade Internacional de Hematologia em Boston (1956), o Congresso da Sociedade Internacional de Transmissão de Sangue e o 9º Encontro Anual da Associação Americana de Hematologia em Boston, o 1º Simpósio Internacional sobre Doenças Venéreas em Washington (1957) , o 11º Congresso Internacional de dermatologia em Estocolmo (1957) e o 3º Congresso Mundial de Psiquiatria em Montreal (1961).

Um importante reconhecimento da utilidade da Interlíngua ocorreu em 1967, por parte da prestigiosa International Standard Organization, a Organização de Padronização Internacional, encarregada da normatização da terminologia científica e tecnológica. Após 30 anos usando o Esperanto, a Organização por decisão de seu Conselho Administrativo, substituiu a concepção esquemática do Esperanto pela mentalidade naturalista da Interlíngua na edição de seu vocabulário. O Diretor desta entidade, Dr. Eugen Wünster, ele mesmo esperantista, explicou esta mudança de política declarando que “as palavras internacionais na sua forma tradicionalmente latina eram mais regulares”.

Em 1969 o Instituto Demográfico de Göteborg, na Suécia, começou a fazer sumários de suas publicações em Interlíngua. Em 1974 o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em sua campanha para ajudar o Terceiro Mundo e combater as pragas que destroem as colheitas, publicou um manual de 500 páginas em 4 línguas: inglês, francês, espanhol e Interlíngua. Novamente em 1977 aquela instituição publicou, nas mesmas 4 línguas, um manual complementar para combater parasitas de animais na Ásia e África.

Cabe aqui chamar a atenção para um característica muito própria da Interlíngua em comparação com os outros projetos de línguas planejadas. É que, enquanto os demais tiveram inicialmente uma grande preocupação em traduzir famosas obras literárias, menos importantes para fins imediatos de comunicação internacional, a Interlíngua dedicou-se mais à própria comunicação nas áreas onde ela é mais necessária na atualidade.

Em 1960 fundou-se a Dansk Interlingua Union, na Dinamarca. Em seguida, diversas associações foram sendo fundadas em vários países. No Brasil, a UBI (União Brasileira pró Interlíngua) foi fundada em 1990, em Brasília.

Os esforços continuam. A Interlíngua já provou que é perfeitamente para uso nas universidades. Na Suécia até hoje é ensinada nos ginásios a matéria — Ällman Språkkunskap — cuja tradução é Conhecimento Lingüístico Geral, mas onde de fato o Prof.Ingvar Stenström ensina a Interlíngua, que além de servir para dar uma maior base de compreensão aos alunos de sua própria língua nacional, ainda facilita o aprendizado de outras línguas estrangeiras.

Apesar de muito bem elaborada, a Interlíngua não teve os recursos necessários à sua divulgação, o que convido a todos possam estudá-la, compará-la e difundi-la em seus estabelecimentos.

Não é preciso inventar nenhuma língua artificial, Já existe uma língua comum dentro das línguas da Europa que se difundiram pelo resto do mundo. São milhares de palavras de origem latina e grega, que servem de veículo à moderna civilização tecnológica mundial. Dotada de uma gramática sóbria, essa Interlíngua é a solução do problema da comunicação internacional.


UBI :: Union Brasilian pro Interlingua :: União Brasileira pró Interlingua
http://www.interlingua.org.br/